quinta-feira, 24 de março de 2011

Music Sheet by E.coli

Esta musica retrata muito bem o que penso sobre o amor e o compromisso...


I don't want half hearted love affairs


I need someone who really cares.
Life is too short to play silly games

I've promised myself I won't do that again.

It's got to be perfect

It's got to be worth it
yeah.
Too many people take second best

But I won't take anything less

It's got to be
yeah
pertect.

Young hearts are foolish
they make such mistakes

They're much too eoger to give their love away.
Well
I have been foolish too many times

Now I'm determined I'm gonna get it right.

It's got to be perfect
. . .

Young hearts are foolish
they make such mistakes
. . .
It's got to be perfect
. . .

It's got to be
yeah
worth it
it's got to be perfect. 

Pelo menos o mais perfeito possível.


sábado, 5 de março de 2011

II

O seu vestido era longo e todo florido. Trazia os seus cabelos longos, cor de fogo, soltos livremente sobre as suas costas. Tinha uns óculos de sol que retirou ao entrar. Ninguém naquele bar ficou indiferente à sua presença. Parecia que ela sugava toda a atenção ao seu redor para a sua pessoa sem o menos esforço. Não desviei o olhar da figura dela até ela me encontrar. Aqueles seus olhos grandes e castanhos encararam-me com um misto de prazer e ansiedade. Voltei a fintar os olhos no meu amigo uísque enquanto tentava escolher as melhores palavras, a melhor frase para lhe contar as novidades que tinha encontrado. Mas, por mais que eu pensasse no assunto, não conseguia encontrar nada, talvez porque não existe uma forma simples e gentil para dizer o que tinha a dizer.
Não demorou muito a ela conseguir abrir caminho até à minha mesa e sentar-se delicadamente na cadeira à minha frente. Ainda não tinha conseguido levantar os olhos do uísque e pareceu-me uma boa altura para o tomar. Levantei o copo e , enquanto o bebia de um trago só, ela prendeu o meu olhar no dela. Como contar a uma mulher cheia de vida como esta, a horrível noticia que eu transportava? Ela pareceu ler-me os pensamentos e baixou o olhar para as mãos que tinha pousadas no colo, e que agora se começavam a contorcer uma na outra.
Quando falou, a sua voz não saiu muito firme, mas mesmo assim parecia segura.
- O que me tem para dizer, Mr Potter?
A pergunta, apesar de ser a mais acertada, conseguiu apanhar-me desprevenido, apenas porque ainda não sabia como lhe responder. Tinha o copo ainda a meio caminho da mesa, imobilizado, enquanto fintava aquela figura à minha frente. Ela era linda, não aquela beleza obvia, mas de uma forma discreta. O cabelo a cair desordenadamente pelos seus ombros a contrastar com a pele clara e alva. Os lábios pequenos e rosados sem qualquer maquilhagem, e as suas longas pestanas tapavam os seus olhos castanho avelã, demasiado expressivos para pessoas como ele.
Ela levantou o olhar a procura de uma resposta para a pergunta que ainda estava no ar. Pareceu-me que comecei a ficar com uma tonalidade rosada nas faces por ter sido apanhado a admira-la e comecei a falar rapidamente, antes de ela ter tempo de um dos seus comentários tão pertinentes mas, muitas vezes, pouco desejados, como neste caso.
- Eu investiguei o que me pediu, Miss Patman, e consegui alguns resultados.
Parei de falar. As palavras pareciam que não queriam deixar a minha garganta, e o facto de sentir o olhar dela em mim não ajudava.
- O que quer dizer quando se refere a alguns resultados?
A voz dela era cautelosa, e pareceu-me que mesmo ela não sabia até que ponto queria uma resposta.
- O melhor talvez seja começar a lhe contar desde o inicio. – Clareei a voz e fixei o meu olhar no dela. – Logo após ter saído deste mesmo lugar à um mês atrás, depois de ter falado consigo, meti mãos à obra e comecei a investigar o desaparecimento do seu pai, como me tinha pedido. Ao princípio não foi fácil. Tenho a dizer que muito provavelmente existe alguém muito inteligente e poderoso a apagar os rastos que o seu pai deixou. Mas não foi rápido o suficiente a apaga-los, pois eu ainda consegui encontrar alguns indícios que me levaram até ao seu pai. Não sei quem é esse homem, ou mesmo mulher, pois não foi para isso que a senhorita me contratou. Consegui chegar até ao seu pai, mas foi tarde de mais. Lamento muito. – Baixei-me para chegar até à minha pasta que estava no chão, e retirei algumas folhas. – Não existia uma forma simples de lhe contar isto, sei que deve ser muito doloroso para si, depois de todo este tempo com esperança, receber uma notícia assim de um estranho, mas é o meu trabalho. – Pousei as folhas em cima da mesa e desvieis na direcção dela. – Aqui esta o meu relatório com todos os detalhes, com os indícios que me levaram até ao seu pai detalhados, e o local exacto onde ele se encontra.
Ela fintava-me sem produzir uma única palavra. Os seus olhos sempre tão expressivos estavam vazios e sem emoção. Quis-me amaldiçoar por ter tão pouco tacto para aqueles assuntos, mas a verdade era aquela e estava dita.
- Compreendo. – A voz dela também não transparecia qualquer tipo de emoção. Levou a mão à sua carteira e retirou um cheque que preencheu à minha. – Aqui está o seu pagamento e agradeço os seus serviços.
Ela dava-me o cheque e a sua mão atraiçoou-a por breves momentos. Tremia levemente, provavelmente à custa de bastante autocontrolo não tremia mais. Mas quando eu peguei no meu pagamento, podia dizer que tinha sido imaginação minha, pois a mão dela encontrava-se tão firme como um rochedo. Mas eu sabia que não tinha sido imaginação minha e admirei a mulher que tinha à minha frente. Peguei no meu casaco e chapéu e com um leve aceno, despedi-me dela.
- Com a sua licença, senhorita. 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

I

Encarei o copo à minha frente ponderando seriamente em me afogar no uísque que ele continha. Tentava manter apenas um pensamento na cabeça e concentrar-me nele, estuda-lo, nem que fosse um pensamento sobre o tempo, mas não conseguia. Eles vinham e iam sem se demorarem o suficiente. O tic-tac do relógio do bar entrava-me pelos ouvidos quase que me anestesiando, acalmando-me. A acompanha-lo, ouvia-se o bater dos saltos da empregada do balcão sempre que ela ia até uma mesa e se retirava para satisfazer os pedidos dos clientes.
Os meus olhos continuavam a fintar o uísque no fundo do copo enquanto uma mão pálida e magra o fazia deslizar gentilmente dentro dele. Nem o pensamento de me afogar naquele meu último refúgio conseguiu durar em mim mais do que escassos bater do relógio. Engoli-o de uma fez só e levantei os olhos para ver o que me rodeava. Ninguém conhecido se encontrava por perto, o que era uma bênção. Se me vissem naquele estado iriam começar com as suas perguntas bem tencionadas o que me acabaria por irritar. As pessoas fintavam-me sem demorar muito o olhar. Talvez a tentar avaliar se eu seria um serial killer ou um inócuo que não tem para onde ir. Assim como elas, também eu não demorei muito o meu olhar nelas. Pessoas pouco interessantes e sem beleza aparente. Estava, sem dúvida, mais interessado na porta de entrada. Já a algum tempo que ela não era aberta e começava-se a criar uma nuvem perto do tecto, resultado da má ventilação, ou mesmo inexistente.
Não sei quanto tempo fiquei ali a fintar a porta. Durante esse tempo a empregada veio à minha beira e voltou-me a servir. Já era conhecido da casa, e ela sabia exactamente quando eu estava a precisar de ser servido e quando queria que ela me deixa-se. Apesar de ter o copo novamente com o meu velho amigo, não o tomei. Com o passar do tempo a minha agitação aumentava sem motivo aparente. Primeiro a bater o pé, como se estivesse a contar a batida de uma música, de seguida comecei a desalinhar o cabelo curto e grosso. Quando já tinha as mãos a tamborilar na mesa, o que fazia o liquido rejeitado em cima da mesa vibrar, a porta finalmente abriu, e ela entrou. 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Queria gritar!

Queria sentir. Queria poder gritar bem alto e largar no mundo toda esta angústia que me atormenta o coração. Mas não consigo, sou atormentada pelo autocontrolo, pela necessidade de não fazer escândalo, pela necessidade que tenho de ninguém saber verdadeiramente o que sinto. Tem algumas vantagens, não minto. Mas o que é que eu faço a toda esta angustia que me corrói por dentro? Não conseguir falar dela, não conseguir coloca-la em palavras parece me mais uma maldição, algo do qual nunca me vou conseguir livrar. Queria poder liberta-la para me sentir mais leve, mas ela teima em não querer sair. Posso até abrir a boca, reunir toda a coragem que tenho para o fazer, mas quando abro a boca, o grito fica mudo, e, em vez de se ouvir o som amordaçado que tenho no coração, derramo uma lágrima silenciosa. 

Endomi

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Eu enlouqueci!!

Eu enlouqueci. Eu sei que enlouqueci e também sei que esta loucura não vai durar durante muito tempo. Mas enquanto dura o que faço eu? Não consigo simplesmente entregar-me a ela porque sei que vou sofrer e, pior, vou parecer ridícula, estúpida e uma autentica criança. Pode ser exactamente esse o problema, eu querer ser uma criança, ou pior, eu não querer ser uma criança mas a simples ideia de o deixar de ser aterroriza-me. Mas de tal forma que o meu cérebro deixa de funcionar, eu mal sei o que fiz e o que disse quando estou naquele estado. Provavelmente é o melhor que tenho a fazer. Mas se é porque é que eu sinto como se o meu coração estivesse a ser torcido como a maquina de lavar faz a roupa. Eu sei que é uma péssima comparação.
 Amanha será o meu ultimo dia de loucura, e eu não quero que ela acabe, mas também não sei viver nela…. 

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A VIDA

Nunca esperei nada da vida. Ou melhor, sempre vivi uma etapa de cada vez. Quando pensava no futuro não via nada em concreto, apenas queria que ele fosse digno e que eu o enfrentasse com toda a minha coragem e acabasse por passar por todas as dificuldades que se me apresentassem. Talvez por isso eu nuca me questionasse sobre a minha vida. Era simples, eram etapas, e uma levava a outra e assim sucessivamente. Sempre me pareceu correcto e continua a parecer. As etapas não são de muito tempo, a mais longa ate hoje foi de cinco anos. Neste momento encontro me exactamente a meio de uma, ou pelo menos penso que sim. As minhas energias estão focadas em termina-la da melhor forma possível e dando o meu melhor. Quando penso em qual será a etapa seguinte, o que é raro, acho que não é muito bom pensar nisso, não sei o que vejo. Mas não me importo. Apesar de todo, sinto-me bem com a minha vida. Cometi erros amargos como qualquer pessoa, mas também tenho amigos e uma família que me ajuda a ultrapassa-los. Não os esqueço, esquecer seria um erro. Sempre fui da opinião que esquecer um erro que tenhamos cometido é cometer outro erro. Nos não os devemos esquecer, devemos meditar neles, pensar exactamente onde foi o lugar em que seguimos o caminho errado e tirar a sabedoria que isso nos proporcionou. Sei isso agora. É claro que na altura que os cometi, senti-me estúpida e fraca, mas agora, e o agora é passado vários anos, sei que aprendi com eles, cresci com eles e também eles contribuíram para a pessoa que sou hoje. Tento ao máximo não os voltar a cometer, mas é claro que, como qualquer ser humano, estamos sempre a cometer erros. Eu apenas tento que esses erros sejam sempre diferentes.
Mas existe uma coisa que me atormenta e me tira o sono. Ainda não sei ao certo o que é e não sei também se quero descobrir. Talvez isso faça de mim fraca mas a verdade é que não sei se estou preparada para me deparar com algo que não compreendo. E tenho um medo. Tenho medo que nesta tentativa furtiva em não voltar a cometer os erros do passado esteja a cometer um erro ainda mais grave, e deixar de viver a vida que se proporciona a minha frente. E se o que eu acho que será um erro, que será uma materialização do passado, não o for e acabar por fechar uma porta a mim mesma sem saber, tão pouco, o que esta por detrás dela? Talvez não seja muito prudente da minha parte pensar nisso, talvez o melhor é esquecer e viver um dia de cada vez. Eu nunca fui uma pessoa de perder o sono. Na verdade não me lembro de uma única ocasião que isso tenha acontecido. Por pior que a minha vida estivesse, por maior que fosse o problema, meu ou de um amigo ou de uma familiar, nunca me conseguiu tirar o sono. Ate agora. Sempre acreditei que o sono é uma parte vital na nossa vida, nunca foi capaz de passar muito tempo sem dormir. Não vou dizer que durma sempre bem. É claro que já tive daquelas semanas em que me levanto mais cansada do que me deitei, mas mesmo assim o sono sempre foi importante para mim. Mas eu deixei de conseguir dormir e sinto o meu coração casa vez mais agitado. Isso preocupa-me bastante. Deito-me tarde e acordo cedo.
Talvez tenha chegado a hora de mudar a minha vida. 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Saí do salão de baile

A gôndola deslizava suavemente pela água, procurando saber que rumo tomar. O nevoeiro era espesso, não deixando alcançar o destino.


Nesta altura, eu não estava preocupada com nada, a não ser livrar-me dos adereços mais valiosos.

Pela primeira vez na vida tinha conseguido assumir o controlo, quando saí do salão de baile. Até aqui davam-me ordens que me limitava a cumprir e digamos que é mais fácil.

Mas hoje, tinha prometido a mim mesma que ia assumir o papel principal, que ia sair das sombras, nem que fosse uma vez na vida e ver como me saía.

O tempo estava a mudar. A chuva branda que vinha a cair desde que a gôndola tinha saída da bela mansão, cessara subitamente. As águas cinzentas iluminaram-se, transformando-se em prata, e o sol a pôr-se irrompeu de súbito das nuvens. As brumas desvaneceram-se como se por ordem de um feiticeiro e a cena , um desenho a tinta, monocromático há pouco tempo atrás, era agora uma aguarela gloriosa.

Raios de ouro distintos espalharam-se pelo céu, captando a floresta de postos de ancoragem a erguer-se da água. O ar brilhava com a incandescência prateada pela qual a cidade era conhecida, fazendo tudo parecer irreal.

Quando a gôndola ancorou, o meu coração era como um martelo de ferro a bater contra o vidro frágil das minhas costas, mas era a sensação mais agradável do mundo.

Desci levantando a saia de veludo e o que vi fez-me suster a respiração. Um imenso mar de figuras mascaradas, tantas quantas as ocasiões e os destinos, uma profusão de cores inimagináveis, sem dúvida, a realeza de uma pintura renascentista.

Senti uma descarga de prazer a percorrer-me, a cidade mais bela e misteriosa do mundo.

Avancei e misturei-me com a multidão, como era possível não ter medo? Por trás de uma máscara poderia estar um ladrão e sabe-se lá o que mais. Mas a vida é mesmo assim, plena, bela e terrível, de dia e de noite.

Agora eu sabia o que era viver: era o preferir seguir em frente, enfrentar os desafios e lutar contra as dificuldades. Fazer aquilo que se tem que fazer e gozar a vida.

Até ao momento limitava-me a viver, porque via os outros viverem, mas agora eu sabia o verdadeiro sentido da vida. Não eram os bailes de máscaras glamorosos de uma classe de elite e intelectualizada, onde as pessoas se conhecem umas às outras e estão mais preocupadas em não fazerem nada de errado do que se divertirem, que me deixavam viver. Antes pelo contrário, sufocavam -me.

De repente, o fogo-de-artifício irrompeu e eu descobri que esta mescla maravilhosa de esperança, incredulidade e magia os igualava a todos, nivelando condições e classes sociais.
 
Espirogira

Tentarei de novo amanhã


À medida que o meu cavalo cavalgava pela floresta fora, a fraca luz do dia dissipava-se através das árvores e o crepúsculo dava lugar à noite cerrada.

Eu? Eu travava uma batalha interior com os meus ideais. Parte de mim desejava simplesmente fugir desta situação, deixar tudo para trás, simplesmente, poder virar as costas a tudo e a todos. O fardo que suportava tornara-se, a cada dia que passava, mais pesado e eu sentia que estava perto do ponto de ruptura. Era como se eu, uma mera humana, tivesse sido incumbida de segurar o planeta enquanto o gigante Atlas tirava férias da sua antiquíssima função. O peso do mundo descansava sobre os meus ombros. As esperanças dos que ansiavam a liberdade, as mortes dos que lutaram por essa liberdade, os destinos dos prisioneiros, os pequenos conflitos que me competiam resolver formavam continentes e oceanos que me faziam sucumbir sobre o seu peso esmagador. Certamente isto não era tarefa para um simples ser humano. A grandeza das minhas decisões ultrapassava-me. No que me pareceu ser um instante, a minha vontade de retaliar, a maneira como não me queria conformar com o que me era imposto tornou-me chefe da rebelião. Ao recordar-me daqueles momentos em que, apaixonadamente, incitava os outros a insurgir-se contra os opressores que nos sufocavam não pude deixar de reparar nas diferenças na minha voz. Naqueles primeiros tempos ela adquiria a força de um rugido feroz e indignado sempre que me deixava levar pela minha mal contida revolta contra esta forma de viver, se é que se pode chamar viver ao que nós fazíamos. Não. O que nós fazíamos era sobreviver.

Agora sentia que já não poderia gritar mais, argumentar mais, lutar mais, esperar mais. Cada vez que falava o meu tom denunciava a fadiga da luta, a crescente falta de esperança, a frustração de não alcançar os resultados que pretendia. Sabia perfeitamente que a cada dia que passava acreditava menos na conquista da minha liberdade, da liberdade do povo ao qual pertencia. No entanto, tentava manter a ferocidade e a esperança no meu rosto para que aqueles que combatiam lado a lado comigo continuassem a acreditar, mesmo quando as minhas forças me atraiçoassem ou a coragem me faltasse e eu simplesmente desaparecesse. No fundo, o que eu estava a tentar fazer era criar um mito, uma mentira. Tentava que quem me observasse visse sempre em mim uma líder forte e destemida, cuja determinação nunca oscilasse por mais adversas que fossem as situações. Um mito. Uma fachada.

No meu interior a esperança parecia ter-se dissolvido no cansaço, deixando apenas desespero no seu lugar.

A revolta continuava a transbordar do meu peito, mas agora o meu desalento parecia querer impedi-la de se tornar material, de se tornar acção, de se tornar luta.

Sentia-me rouca por dentro.

Neste exacto momento não tinha de fingir ser mais nada do que eu mesma. Apenas o cavalo me impelia para a frente.

O cansaço abatia-se sobre mim.

O trote regular do cavalo ecoava pela floresta arrastando-me para a inconsciência.

Com as poucas forças que me restavam fiz o cavalo parar.

Da inconsciência, o sábio ancião chamava-me dizendo-me:

“A coragem nem sempre ruge. Às vezes é a voz sossegada no fim do dia dizendo Tentarei de novo amanhã.”

“Tentarei de novo amanhã” - sussurrei.

O luar despertou-me com a sua luz.

Olhei para a lua por um momento infinito e senti-me mais desperta do que nunca.

Rendendo-me ao meu lado lunar montei e comecei a cavalgar o mais depressa que o meu cavalo me permitia pela floresta adentro.

“Liberdade…” – sussurrei.

“LIBERDADE!!!” - gritei para que todo o mundo pudesse ouvir.



E.coli

Loba em mim




Era quase noite quando abri os olhos. Não reconheci de imediato o lugar onde estava, mas também não me importava com isso, sabia que nunca mais poderia voltar para o lugar de onde tinha vindo. Toda a informação que eu tinha estava ainda a fervilhar dentro de mim. Não conseguia acreditar no que me tinham dito, nem queria.

Levantei-me sem pressa, a lua estava quase a aparecer. Agora minha mente vagueava sem lugar preciso. Ter deixado tudo para trás foi mais fácil do que alguma vez pensei que seria. Não havia arrependimento dentro de mim, nem nostalgia. Talvez porque, finalmente, estava a seguir o meu caminho. Apenas sentia um vazio que não queria preencher.

Toda a minha vida tinha tentado negar o que estava na minha frente. Apenas não queria ver, para não ter de enfrentar. Agora que chegou a hora estava calma, como se toda a minha vida tivesse caminhado para aquele momento. Em certa medida tinha sido assim mesmo, mas no final quem escolheu foi ela.

Saí da cabana em direcção ao riacho que ouvia ao longe. Apesar de ser Inverno e haver neve até à altura dos meus joelhos, eu não sentia frio, e o riacho nunca parava de cantar durante todo o ano. Sabia que não era necessário ser assim, se eu quisesse. Mas afinal se não fosse assim ia ser como? Não queria a vida que tinha.

A água do riacho cantava como quem chamava por mim. Não fugi desse chamamento nem me apressei a responder-lhe. A lua estava quase a aparecer, mas ainda havia tempo para uma última despedida.

Olhei para uma pedra que estava perto e era grande o suficiente. As letras começaram a aparecer numa linha perfeita, pareciam desenhadas. Todo o meu amor e desespero iriam ficar para sempre gravados naquele lugar.





Tudo o que eu sempre quis está aqui

A água, a terra, a lua

O desespero faz parte de mim, assim como o sonho

Lutei e vou continuar a lutar

Até ao dia em que o sol encontrar a lua

Até ao dia em que a lua encontrar o sol

Eu estarei aqui





A lua apareceu em todo o seu esplendor por cima de mim. Fazia um círculo perfeito contra o negro do céu. Não tive medo como esperava que iria ter. Eu estaria sempre ali, o meu coração ficaria para sempre ali.

A transformação não foi dolorosa, nem perto disso. Parecia que uma magia actuava em mim de uma forma que me fez entregar totalmente sem qualquer reserva. Tudo o que foi modificado era apenas a forma física, como eu esperava, o meu coração continuava ali.

Olhei na água que corria e cantava ainda mais alto. O reflexo não me assustou como eu esperava. Era claro que estava diferente, mas os meus olhos continuavam ali, sem medo, com uma calma que fazia o meu coração transbordar de alegria como nunca esperei que pudesse acontecer.

Agora seria uma loba, eternamente, até ao dia em que o sol encontrar a lua, até ao dia em que a lua encontrar o sol.


Endomi